A expressão suicídio e menopausa ainda assusta — e justamente por isso precisa ser dita em voz alta. A transição para a menopausa (perimenopausa e pós‑menopausa) traz oscilações hormonais, mudanças no sono, no humor e na energia. Para parte das mulheres, esse conjunto pode ampliar a vulnerabilidade emocional. Falar sobre suicídio e menopausa não é fazer alarmismo: é reduzir estigma, reconhecer sinais e abrir portas de cuidado.
Se você está em sofrimento intenso, pensando em se ferir ou acabar com a própria vida, procure ajuda agora. No Brasil, ligue CVV 188 (24h) ou acione o SAMU 192 em caso de emergência.
O que esta matéria vai te entregar
- Sinais de alerta e fatores de risco, em linguagem clara.
- O que a ciência recente mostra sobre suicídio e menopausa.
- Caminhos de ajuda e estratégias práticas de proteção.
- Quando considerar avaliação para terapia de reposição hormonal (TRH), psicoterapia e outras abordagens integradas.
O que a ciência diz sobre suicídio e menopausa
Pesquisas recentes ajudam a organizar o cenário:
- Perimenopausa como “janela sensível”: uma revisão sistemática apontou maior ideação suicida durante a perimenopausa em parte dos estudos, embora a evidência seja heterogênea. Em outras palavras, há mulheres mais vulneráveis nessa fase, e outras que não terão esse problema.
- Idade da menopausa importa: um estudo de coorte com mais de um milhão de mulheres na pós‑menopausa encontrou maior risco de morte por suicídio quando a menopausa ocorreu mais cedo (especialmente em insuficiência ovariana primária/POI, antes dos 40 anos). O risco diminuiu conforme a idade da menopausa foi mais tardia — um gradiente “dose–resposta”.
- Voz das mulheres: um estudo qualitativo com entrevistas de mulheres em perimenopausa descreveu desde “não querer estar viva” até tentativas de suicídio. Muitas relataram barreiras de acesso e diagnósticos equivocados. Em vários relatos, a TRH adequada e o suporte entre pares foram pontos de virada.
Essencial: associação não é destino. Suicídio e menopausa pedem olhar individualizado, que considere humor, sono, saúde física, história de vida, suporte social e contexto.
Perimenopausa: janela de maior sensibilidade
Quedas e flutuações de estrogênio e progesterona influenciam neurotransmissores ligados ao humor (como serotonina e GABA) e podem piorar insônia, ansiedade, irritabilidade e fadiga. Em algumas mulheres, esse combo favorece pensamentos de desesperança. Sinais que exigem atenção:
- piora súbita ou persistente do sono;
- irritabilidade e ansiedade fora do padrão habitual;
- sensação de “não ver saída”, culpa ou inutilidade;
- retraimento social;
- pensamentos sobre morte ou de “não querer estar viva”.
Menopausa precoce e POI: atenção redobrada
Quando a menopausa acontece antes dos 45 anos — e especialmente antes dos 40 (POI) — vale intensificar o rastreamento de humor, a avaliação do sono e uma conversa franca sobre TRH (quando não houver contraindicações), sempre com acompanhamento médico.
Ideação × mortalidade: camadas diferentes do problema
A literatura distingue ideação/tentativas (mais comuns em momentos de maior instabilidade) de mortalidade por suicídio (influenciada por muitos outros fatores). Entender essa diferença ajuda a não minimizar sinais e, ao mesmo tempo, a evitar alarmismo.
Sinais de alerta: quando se preocupar e o que fazer
Se você ou alguém próximo apresenta as combinações abaixo, procure ajuda profissional:
- Desesperança + piora do sono + ansiedade/irritabilidade que não passa;
- Pensamentos de morte ou de “sumir”;
- Plano ou acesso a meios letais;
- Uso aumentado de álcool ou automedicação para “desligar a cabeça”.
Ações imediatas:
- Fale com alguém de confiança agora.
- Ligue CVV 188 ou procure uma UPA/Pronto Atendimento; em risco iminente, SAMU 192.
- Evite ficar sozinha e reduza o acesso a meios letais.
- Agende avaliação com profissionais (atenção primária, ginecologia/endocrinologia/psiquiatria, psicologia/psicoterapia).
Suicídio e menopausa: como buscar ajuda e tratamento
O cuidado é multidisciplinar e deve ser personalizado:
TRH, antidepressivos e psicoterapia: o que considerar
- TRH: pode melhorar fogachos, sono, humor e qualidade de vida em mulheres elegíveis. Não é “remédio para tudo”, mas, quando indicada, pode reduzir fatores que alimentam o sofrimento. A decisão é sempre médica e individual, considerando riscos/benefícios.
- Antidepressivos/ansiolíticos: úteis em muitos casos, especialmente quando há transtornos depressivos/ansiosos. Podem ser usados com TRH ou sem TRH, conforme o quadro clínico.
- Psicoterapia: abordagens como TCC e terapias de regulação emocional ajudam a manejar pensamentos intrusivos, catastrofização e padrões de evitação.
- Sono: higiene do sono, tratamento de insônia e triagem de apneia são pilares.
- Estilo de vida: atividade física regular, redução de álcool, alimentação equilibrada e rotinas de conexão social têm efeito protetor.
O papel do ambiente e do suporte
- Ser levada a sério faz diferença: estudos qualitativos mostram que a validação dos sintomas e o acesso oportuno ao cuidado mudam trajetórias.
- Grupos de apoio e redes entre mulheres na mesma fase favorecem sentimento de pertencimento e esperança.
Perguntas frequentes sobre suicídio e menopausa
1. Toda mulher na perimenopausa terá ideação suicida?
Não. A maioria não terá. Mas é uma fase em que sintomas emocionais podem piorar para algumas pessoas — por isso, atenção precoce ajuda.
2. Só depressão “verdadeira” causa ideação?
Não. Insônia, ansiedade e irritabilidade intensa também podem alimentar pensamentos de desesperança. Mesmo sem diagnóstico formal, procure avaliação.
3. TRH “cura” ideação suicida?
Não é correto falar em “cura”. A TRH pode melhorar fatores contributivos (fogachos, sono, humor) em mulheres elegíveis. É uma ferramenta dentro de um plano integral, não uma solução única.
4. Menopausa precoce aumenta o risco de morte por suicídio?
Estudos de larga escala sugerem aumento de risco quando a menopausa ocorre antes dos 45 anos — especialmente antes dos 40 (POI). Isso não significa que ocorrerá; significa que merece atenção redobrada.
Onde buscar apoio agora
- CVV — Centro de Valorização da Vida: telefone 188 (24h), chat e e‑mail em cvv.org.br.
- Rede SUS: Unidade Básica de Saúde/Clínica da Família (acolhimento e encaminhamento).
- Emergências: SAMU 192 ou 193 (Corpo de Bombeiros).
- Profissionais e serviços especializados: ginecologia, endocrinologia, psiquiatria, psicologia/psicoterapia.
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