Menopausa e doenças autoimunes: o que muda?

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Menopausa e doenças autoimunes: mãos femininas com vitiligo apoiadas em tronco, simbolizando diversidade e força.

Menopausa e doenças autoimunes caminham, muitas vezes, em linhas que se cruzam. Na transição do climatério, é comum que sintomas como dor articular, fadiga, névoa mental e secura vaginal se confundam com manifestações de condições autoimunes — o que pode atrasar diagnósticos e tratamentos.

A boa notícia: há ciência atual explicando o que muda no sistema imune com a queda dos estrogênios e como isso se reflete em doenças como artrite reumatoide (AR), lúpus (SLE) e síndrome de Sjögren. Neste guia, traduzimos as evidências em orientações práticas, sem alarmismo, com acolhimento e foco na sua qualidade de vida.


Menopausa e doenças autoimunes: o essencial

  • A menopausa é uma fase natural que marca 12 meses sem menstruar. A queda dos estrogênios impacta a regulação da inflamação e pode alterar o curso de doenças autoimunes.
  • Algumas queixas típicas da menopausa — dor nas articulações, rigidez, cansaço, secura vaginal — também aparecem em doenças reumáticas, exigindo olhar clínico cuidadoso.
  • O objetivo do cuidado é aliviar sintomas, proteger órgãos e manter sua autonomia, combinando estilo de vida, terapias não hormonais e, quando indicado, terapia hormonal sob avaliação individual.

Como os estrogênios modulam a imunidade

Os estrogênios são mensageiros importantes em praticamente todas as células imunológicas. Quando caem, aumenta a propensão à inflamação crônica de baixo grau (o chamado inflammaging), com mudanças em citocinas e no comportamento de linfócitos. Em linguagem simples: o “freio” anti-inflamatório enfraquece, e algumas doenças podem acender ou mudar de padrão.

Tradução prática: isso ajuda a entender por que a dor difusa pode piorar, por que infecções parecem “pegar” diferente e por que ajustes de tratamento podem ser necessários nessa fase.


Menopausa e doenças autoimunes: início x evolução

  • Para algumas condições, a menopausa pode coincidir com o início dos sintomas ou com mudanças no ritmo de atividade da doença.
  • Em outras, a atividade pode até diminuir após a menopausa, mas os danos acumulados pedem vigilância, especialmente cardiovascular e óssea.

Artrite reumatoide (AR): o que observar

Menopausa e doenças autoimunes na AR

  • O risco de surgimento de AR pode aumentar nos anos em torno da menopausa. A rigidez matinal e o inchaço das mãos são sinais de alerta.
  • Mulheres na pós-menopausa tendem a apresentar mais dor e incapacidade na AR estabelecida. Isso não é “culpa sua”: é biologia, e há tratamentos eficazes hoje.

Condutas que ajudam

  • Não adie a avaliação reumatológica se houver dor/inchaço persistentes nas mãos, punhos, pés ou joelhos por >6 semanas.
  • Terapia hormonal (TH): pode reduzir o risco de AR ACPA‑positiva em algumas mulheres. Porém, a indicação é individualizada (histórico, risco cardiovascular/trombótico, mamas) e sempre compartilhada entre gineco e reumato.
  • Estilo de vida: atividade física que preserva massa muscular, controle do sono e dieta anti-inflamatória (rica em fibras, azeite, peixes gordos) potencializam o efeito dos medicamentos.

Lúpus (SLE): menos atividade, mais atenção ao coração

Menopausa e doenças autoimunes no lúpus

  • Em muitas mulheres, a atividade do lúpus e a frequência de “flares” podem diminuir após a menopausa.
  • Ainda assim, eventos cardiovasculares arteriais tendem a ser mais comuns depois da menopausa. Monitorar pressão, colesterol, glicemia e manter o tabagismo longe é fundamental.

TH e lúpus

  • TH pode aumentar flares leves a moderados em SLE — por isso a decisão precisa ser criteriosa.
  • Atenção extra se você tem anticorpos antifosfolípides (SAF/AAF): estrogênios exógenos elevam o risco de trombose, e a TH costuma ser evitada quando há sorologia positiva.

Síndrome de Sjögren: quando a secura confunde

Menopausa e doenças autoimunes na Sjögren

  • O início da Sjögren frequentemente coincide com a perimenopausa, e sintomas como secura vaginal e dispareunia podem ser confundidos com queixas típicas da menopausa.
  • Ensaios com DHEA/DHEAS não demonstraram benefícios clínicos consistentes; e o uso de terapia hormonal (apenas estrogênio ou combinada) foi associado, em estudo caso‑controle, a maior risco de desenvolver Sjögren.

O que fazer na prática

  • Investigação com reumatologia/odontologia (fluxo salivar, autoanticorpos) e medidas locais: lágrimas artificiais, géis/lubrificantes, higiene oral rigorosa e, quando indicado, terapias para estímulo salivar.

Outras condições e pontos de atenção

  • Psoríase e artrite psoriásica: os dados são conflitantes; faltam estudos conclusivos.
  • Esclerose sistêmica: a pós-menopausa pode se associar a riscos específicos (ex.: hipertensão pulmonar isolada), exigindo seguimento próximo.

Terapia hormonal, Menopausa e doenças autoimunes: como decidir

  • A indicação da TH considera sintomas vasomotores impactantes, risco cardiovascular, história de câncer de mama, trombose e o tipo de doença autoimune.
  • Para AR, a TH não costuma piorar a doença e pode ter benefícios em subgrupos.
  • Em SLE, a TH pode aumentar flares leves/moderados; em presença de AAF/SAF, evita-se estrogênio sistêmico.
  • Já em Sjogren, a TH foi associada a maior risco de desenvolvimento da doença em estudo observacional — decisão deve ser cautelosa.

Resumo seguro: TH não é “proibida” em quem tem doença autoimune, mas pede avaliação individual, escolha da via/dose, janela de tempo e acompanhamento conjunto gineco‑reumato.


Sinais de alerta: procure avaliação

  • Dor e rigidez matinal persistentes (>6 semanas) nas mãos/pés
  • Febre baixa, fadiga importante e perda de peso sem explicação
  • Olhos e boca muito secos, cáries de repetição, aftas
  • Queda de cabelo, feridas na boca, dor torácica ao respirar
  • Inchaço em articulações com calor/vermelhidão

Menopausa e doenças autoimunes: seu plano de cuidado

  • Movimento diário: força + aeróbico leve/moderado, 150 min/semana, sob orientação.
  • Sono consistente: rotinas, luz natural de manhã, reduzir telas à noite.
  • Alimentação anti-inflamatória: mais vegetais, leguminosas, frutas, grãos integrais; priorize azeite, nozes e peixes; limite ultraprocessados.
  • Saúde óssea e cardiovascular: vitamina D/suplementos quando necessários, avaliação de densitometria, controle de pressão/lipídios.
  • Saúde sexual: para secura e dor, discuta opções locais (ex.: estrogênio vaginal de baixa dose) e fisioterapia de assoalho pélvico.
  • Acompanhamento integrado: ginecologia, reumatologia e, se preciso, cardiologia/odontologia.

Leia também

Dica extra: Assista ao nosso PodKefi 23 | Saúde cardiovascular da mulher na menopausa. Nele discutimos porque tantas mulheres morrem do coração após a menopausa.


Perguntas frequentes

1. Toda dor nas juntas na menopausa é artrite reumatoide?

Não. A queda hormonal pode causar dor e rigidez sem inflamação. Mas se houver inchaço, calor, vermelhidão ou rigidez prolongada, vale investigar.

2. Tenho lúpus. Posso usar terapia hormonal?

Depende. Sem anticorpos antifosfolípides e com doença estável, algumas mulheres podem usar, com monitorização. Com AAF/SAF, geralmente se evita estrogênio sistêmico.

3. Secura vaginal piorou. É Sjögren?

Nem sempre. A secura da menopausa é comum e tem tratamento local. Se houver olhos muito secos, cáries e fadiga, converse sobre Sjögren.


Conclusão

Menopausa e doenças autoimunes exigem olhar integral, sem pânico. Com diagnóstico preciso, plano de cuidado personalizado e revisões periódicas, é possível viver essa fase com autonomia, conforto e saúde.

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